quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Funcafé pode ser usado para operação no mercado futuro

Abaixo segue uma notícia do Conselho Monetário Nacional que reflete a importância da utilização de ferramentas do mercados de futuros e derivativos para o gerenciamento de risco de preços. Projetar fluxo de caixa, garantir vendas a preços mínimos, participar de ganhos em viradas de mercado fazem parte das diversas estratégias que podem ser usadas nas bolsas. 
Apesar do receio nas operações e a crença generalizada do caráter especulativo dos contratos futuros, o hedge (proteção) não tem a menor proximidade com isso. A definição do hedge é que a posição assumida no mercado futuro é oposta à do físico. Assim, o produtor que tem café em estoque entra vendido no mercado garantindo seus preços. Pode-se desenvolver a estratégia e caso o mercado suba, ele ganhe no futuro também, mas com um custo adicional que precisa ser avaliado.
Em suma, as estratégias que podem ser utilizadas são diversas, atendem a quaisquer necessidades, não deixam o agente sofrer com os riscos das oscilações de preço - como os -8% da terça - e garantem tranquilidade.


PS: não deixem de ler na publicação anterior, o artigo sobre o mercados futuros agropecuários para compreender melhor o tema.
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O CMN aprovou a criação de uma linha especial de crédito no valor de R$ 50 milhões para financiar o pagamento dos custos operacionais, margens e taxas das operações do mercado futuro de café. 
Os recursos são do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira). “O foco é fazer a distribuição das operações no mercado futuro do grão no momento em que o preço do mercado está rentável”, explicou Gilson Bittencourt. “Se incentivo a venda futura, escalono melhor a oferta”.
A linha especial de crédito poderá financiar até 100% do valor exigido em bolsas de mercadorias e de futuro limitado a R$ 80 mil por produtor e, no caso de cooperativa de produção, o resultado da multiplicação de R$ 40 mil pela quantidade de cooperados ativos que tenham depositado a produção de café. 
Os cafeicultores poderão contratar a linha até o dia 1º de dezembro de 2010, com prazo de reembolso coincidente com o prazo de liquidação da operação de mercado de futuros ou de opções, limitado a 360 dias contados a partir da data de contratação, à taxa de juros de 6,75% a.a.


Fonte: Assessoria de Comunicação Social - GMF


http://www.fazenda.gov.br/audio/2010/agosto/a250810.asp

Mercados futuros agropecuários

Aqui segue o link de um texto curto, porém denso, sobre a importância do mercado de futuros agrícolas:


http://avisoemdois.com.br/educacao-financeira/mercados-futuros-agropecuarios/

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Relatório diário referente ao dia 12/08


1.    Preço em NY, Londres e BM&F
Os fortes ganhos de NY foram correlacionados com informações sobre a chegada de frente fria e queda nas temperaturas nas regiões produtoras do Brasil. Rompimento de resistência disparou mais ordens de compra, e não à toa, o volume foi de 56.289 contratos negociados. Além do mais, a recompra de posições vendidas favoreceu a alta. Setembro/10 fechou em US$ 175,55 cents/lb, alta de 495 pontos. Hoje, conforme já avisamos ontem, vencem opções de set/10.
Londres subiu com baixo volume devido ao desinteresse da indústria e ausência de novas notícias. Os ganhos foram limitados devido a expectativa de safra elevada no Vietnã. Volume de negócios foi baixo, 15.683. Cobertura de posições vendidas sustentou o mercado. Setembro/10 encerrou em US$ 1.735/ton, aumento de 27 pontos.
BM&F foi favorecida pela defesa de posições de fundos em NY, dado o vencimento de opções. Alto volume, 3.312, impulsionou o mercado nacional. Setembro/10 terminou em US$ 209,45/saca, ganhos de US$ 7,00/saca.
2.    Fundamentos
As exportações de café do México recuaram 20% em julho de 2010, atingindo 187.131 sacas de 60 quilos, no comparativo com igual mês do ano passado. As informações partem do Ministério da Agricultura do México, segundo noticiaram agências internacionais de notícias. Julho é o décimo mês da temporada 2009/10, que vai de outubro de 2009 a setembro de 2010. A receita com as exportações de julho chegaram a US$ 40 milhões, levemente abaixo das US$ 41 milhões que o México somou em julho do ano anterior. Nos dez primeiros meses da temporada 2009/10, ou seja, no acumulado de outubro/julho, os embarques são de 2,24 milhões de sacas, 5,9% menos que as 2,38 milhões de sacas do mesmo período da temporada 2008/09. A receita com os embarques de outubro 2009 a julho 2010 no acumulado está em US$ 435 milhões, contra US$ 425 milhões emigual período da temporada 2008/09. (Safras)
3.    Mercado local
No mercado físico, a alta de NY estimulou apenas demanda acentuada para grãos melhores (bebida dura), enquanto que os de segunda linha (rio) não tiveram muito interesse de compra, permanecendo com preços estáveis.

4.    Câmbio
A pressão de novas notícias do exterior mostrando a fragilidade da recuperação econômica global levou o mercado doméstico de câmbio a um desmonte de posições vendidas, mas a perspectiva de que o fluxo continue positivo fez com que, no final, o dólar ficasse praticamente no zero a zero. De qualquer forma, os operadores acreditam que nesta quinta-feira a alta do dólar frente a outras moedas tenha sido um movimento imediatista porque, caso os Estados Unidos tenham que sucumbir à adoção de outras medidas de estímulo à economia, entendem que o dólar tende a se depreciar em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o número de trabalhadores que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio-desemprego subiu 2 mil na semana até 7 de agosto, após ajustes sazonais, para 484 mil solicitações - o nível mais alto desde a semana encerrada no dia 20 de fevereiro deste ano. Os dados se somaram à redução no ritmo de crescimento da economia chinesa vista ontem e à queda na produção industrial da zona do euro divulgada hoje. No bloco europeu, a produção industrial recuou 0,1% em junho sobre maio, enquanto a expectativa era de alta de 0,5%. Anualmente, houve alta de 8,2%, ao passo que o consenso era de avanço de 9,1%, segundo a Dow Jones. No mercado local, a alta do dólar continua a encontrar limitador na perspectiva de fluxo de recursos ao País. O Banco Central decidiu fazer de manhã o leilão de compra no mercado à vista que tem feito diariamente desde 8 de maio de 2009. Para um operador, a decisão pelo horário pode estar ligada a algum fluxo de entrada que o BC soubesse e, por isso, a autoridade monetária decidiu se antecipar no enxugamento da liquidez. O leilão aconteceu por volta das 12h45 e a taxa de corte das propostas foi fixada em R$ 1,7697. Em encontro com a imprensa para apresentar o relatório de gestão das reservas internacionais, o diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, afirmou que o BC ainda não tomou uma decisão sobre ofertar contratos de swap cambial reverso.. Dólar comercial ficou em R$ 1,774, apreciação de 0,23%.



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Auto-Sabotagem

Neste artigo, falaremos superficialmente sobre um problema com que o trader deve saber lidar: ele mesmo. As Finanças Comportamentais estudam os vieses heurísticos comuns na tomada de decisões, dentre os quais, alguns que afetam diretamente os investimentos. Mas, aqui vamos apenas abordar um ponto que cabe mais à esfera psicológica/psicanalítica aprofundar.

Sejam com nós mesmos, com amigos ou com colegas profissionais, já tivemos conhecimento de diversos exemplos de trades “burros”. Defino-os como sendo aqueles em que ficamos tentando entender por que entramos numa posição na qual havia fortes indícios para se assumir exatamente a ponta contrária. E na maioria dos trades burros também não há stop, o que é ainda mais estranho, porque está é a forma mais simples de gerenciar riscos, delimitando pontos de entrada e saída (isto é, lucros e prejuízos máximos). No abandono dos stops, as Finanças Comportamentais dão uma mão dizendo que ocorreu esperança pela recuperação através do otimismo exagerado ou excesso de confiança na tomada de decisão. Para esses casos aparentemente inexplicáveis de erros, a Psicologia e Psiquiatria contribuem elucidativamente.

Dr. Alexander Elder em sua longa experiência como psiquiatra convenceu-se de que a maioria dos fracassos da vida resulta de um desejo inconsciente de fracassar. E explica que isso ocorre quando atuamos como “crianças impulsivas, em vez de como adultos inteligentes”. Observe-se o seguinte caso clínico:

Um importante investidor procurou-me para uma consulta. Seu patrimônio estava sendo destruído por forte alta no dólar, em que assumira grande posição vendida. Analisando seus antecedentes, descobri que ele fora criado às turras com um pai repulsivo e arrogante. Tornara-se conhecido por seus próprios méritos ao apostar muito dinheiro em reversões de tendência em curso. Esse investidor continuou a aumentar sua posição vendida, pois não podia admitir que o mercado, que para ele representava seu pai, fosse maior e mais forte do que ele. (ELDER, 2004, p. 29)

A deflagração da auto-sabotagem ocorreria segundo o também psiquiatra Dr. Flávio Gikovate, da seguinte maneira:

Quando nos aproximamos muito de um estado vivenciado como sendo de plenitude, de que não nos falta nada – e o amor bem-sucedido corresponde a uma das situações nas quais sentimos isso –, passamos a experimentar um medo difuso, a viver uma sensação de ameaça e de riscos iminentes. Parece que alguma grande tragédia passa a nos rondar e, a qualquer momento, nos alcançará. O estado de pânico e pavor pode ser tal que não consigamos vislumbrar outra saída a não ser destruir aquilo que está “provocando” a felicidade e também o medo. (GIKOVATE, 2005, p. 46)

Conclusão e sugestão: “A bagagem mental da infância pode impedir o seu sucesso nos mercados. Você precisa identificar os seus pontos fracos para mudar. Mantenha um diário sobre suas operações de mercado – anote nele as razões que o levaram a entrar ou a sair de todas as posições. Busque padrões repetitivos de sucesso ou fracasso” (ELDER, 2004, p. 29). A solução, então, para resolver isso é a busca pelo autoconhecimento.
Os mercados oferecem muitas oportunidades de autodestruição. Não têm uma solidariedade humana normal. Todos os operadores no mercado tentam bater nos outros. Todos os operadores de mercado são atingidos pelos demais. Afinal, ao contrário do que muitos dizem, investimentos em mercados financeiros não são jogos de soma zero, mas sim de soma negativa: os ganhadores recebem menos do que os perdedores levam de prejuízo porque os intermediadores da operação – corretoras, bolsas e assessores financeiros – precisam receber suas comissões, em outras palavras, as chances estão contra o aplicador.

Outro aspecto ligado a isso é o modo pelo qual o caráter afeta o comportamento do agente no mercado, que pode explicar alguns casos de auto-sabotagem. Note-se a citação: “A culpa não pode existir a não ser depois de determinado grau de sofisticação da razão, que nos permite a operação psíquica um tanto sutil de tentarmos nos colocar no papel de outra pessoa e imaginar o sofrimento dela por conta do que teríamos causado” (GIKOVATE, 2005, p. 24). A partir disso, pode-se dizer que pessoas com caráter generoso não são as mais adequadas a participar dos mercados, pois, se ficarem preocupadas com o bem-estar de seus semelhantes, poderão se sentir culpadas por serem bem-sucedidas, isto é, tirar dinheiro dos outros, já que para isso, é necessário que haja o fracasso na outra ponta. Assim, podem, através de um mecanismo inconsciente causado pelo seu altruísmo pernicioso, devolver seus ganhos na busca de uma equidade distributiva social, visando um bem-estar geral. Logo, o trader pode até compreender como outro agente se frustra e se sente diante de uma perda – isto é denominado de empatia afetiva, que é relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia –, mas, para o caso específico de um caráter generoso, a identificação precisa ser eliminada para não desencadear a auto-sabotagem.

Cada investidor tem seus próprios demônios a exorcizar no esforço de tornar-se um profissional bem sucedido. Pelo exposto acima, pode-se dizer que os vencedores precisam pensar sentir e agir de maneira diferente dos perdedores. Uma regra para a profissionalização dos investimentos financeiros seria “olhar para dentro de si mesmo, deixar de lado as ilusões e mudar as velhas maneiras de ser, pensar e agir. A mudança é difícil, mas se quiser ser um investidor profissional, você deve empenhar-se em mudar sua personalidade” (ELDER, 2004, p. 46). Assim, não é de se estranhar que algumas corretoras brasileiras ofereçam serviços de psicólogos a seus clientes.

Para qualquer tentativa de mudança temos que conseguir nos livrar das crenças. Isso não é fácil, pois elas funcionam como nosso alicerce intelectual, como base de uma estrutura psíquica que nos sustenta ao mesmo tempo em que nos empobrece. As crenças nos reasseguram nos impedem de termos de conviver com dúvidas. Acontece que, como dizia Ortega, nosso vigor intelectual está diretamente relacionado com nossa capacidade de suportar dúvidas. Costumamos preferir explicações apressadas e singelas ao convívio doloroso com as dúvidas. Porém, a criatividade humana depende de nos dispormos a vivenciar o estado de desconforto próprio dos que não sabem e que são os que poderão, em algum momento, ter idéias – e não apenas repetir com pompa as velhas crenças. (GIKOVATE, 2005, p. 88)

Referências:

ELDER, Alexander. Como se tornar um operador e investidor de sucesso. 13a ed. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2004. 305 p.

GIKOVATE, Flávio. O mal, o bem e mais além: egoístas, generosos e justos. São Paulo: MG Editores, 2005. 155 p.

Giovani Damiano