quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Previsão para semana de 01 a 05 de novembro

NY ainda continua em tendência altista, mas esta semana os preços andaram de lado, ameaçaram fazer a correção depois da baixa de quinta-feira, mas finalizaram com uma alta expressiva na sexta-feira. A alta de sexta-feira foi favorecida por preocupações climáticas. Os fundamentos de café nós já conhecemos e dão o tom positivo para os preços. Fatores macroeconômicos também ajudam: a guerra cambial está trazendo grandes fundos a procurarem as commodities como investimento seguro e rentável, por isso, a alta generalizada nas commodities. O que temos agora é a volatilidade implícita mais alta indicando para uma nova alta ou uma queda forte, mas não para um mercado negociando por muito tempo próximo de US$ 2,00 por libra. Vamos então ponderar o lado dos touros e dos ursos.
As posições vendidas de 42.917 contratos das casas comerciais equivalem a 12 milhões de sacas descobertas, precisando de cobertura até o final do mês de dezembro. Com o mercado no físico pagando valores acima dos preços cotado na bolsa um rally de alta não é descartado, na medida em que os comprados vão simplesmente esperar os vendidos trocarem de posição e lançar contrato de venda para o mês de março – próximo mês da bolsa –, mas tendo que se juntar aos comprados para este mês. Por outro lado, com o efeito de sustentação do final do mês neutralizado, fundos com uma posição próxima das máximas recentes – os fundos aumentaram suas posições compradas em mais 3.445 contratos em relação à semana anterior ficando com 40.318 contratos comprados em sua carteira –, e com mais disponibilidade de café, poderemos ver uma tomada de lucro no mercado futuro. Resta “apenas” projetar qual será a resultante disso. O que temos tecnicamente é uma divergência baixista, apontando perda de fôlego do mercado, e, por isso, vemos como mais provável uma correção negativa de curto prazo ainda nesta semana.



Londres já havia rompido na semana anterior ao período de análise deste relatório, a forte resistência próxima de US$ 1.840/ton. Por isso recomendávamos compra, mas dado o recente rompimento, não saberíamos dizer se os preços andariam próximos a esta barreira, para depois começar a subir. No fim, isto foi o que aconteceu. E agora, a estratégia mais recomendável para o mercado de futuros de robusta é o momentum investing, ou seja comprar o que já está caro, para vender mais caro ainda. Como as cotações têm mostrado boas altas e com certo fôlego, apenas alguma correção mais significativa em NY pode atrapalhar esta trajetória ascendente de preços – que foi o que aconteceu hoje, dia 1/11. O único e enorme problema dessa estratégia é que não se pode dizer quando sair, portanto, fica a velha máxima de mercado: “lucro bom é lucro no bolso”, para melhor administrar isso, usa-se stops móveis. A trajetória do mercado mantém-se altista, mas como nada dura para sempre, fica assim nossa recomendação.



Em nosso último relatório, dizíamos que não sabíamos ponderar até onde poderia ir a alta de preços na BM&F. Agora temos fortes suspeitas de que não só alcançamos uma primeira barreira, como esta está para ser deixada para que o mercado volte a níveis de preços menores. A linha inferior do canal de alta serviu como suporte nesta semana. Mas a indefinição dos preços e a alta volatilidade implicam que os indecisos são muitos e estes se juntaram à tendência que prevalecer, seja altista ou baixista, por isso, imaginamos um mais provável estouro para baixo. O primeiro suporte está curto, nos US$ 230,00/saca, e depois disso, há um por volta de US$ 222,00/saca. Está queda de 500 pontos na semana que se inicia pode ser favorecida por um gap por conta do feriado nacional na terça-feira. Então, cuidado para dormir posicionado no feriado.



**Esta análise foi enviada para nossos clientes e colaboradores no dia 01/11/2010**

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dólar comercial - aspectos atuais


As duplas atuações do BC comprando dólares através de leilão no mercado à vista voltaram a ocorrer nesta semana E durante três dias seguidos, de quarta a sexta-feira. O efeito sobre o câmbio é momentâneo na movimentação do dia, mas sinaliza que o BC está atento ao mercado. Alguma mudança de fato talvez pudesse ser observada se o BC pagasse cotações acima das praticadas pelo mercado, mas isso não faz parte do seu histórico de atuação. De qualquer forma, a efetividade do leilão à vista depende da boa vontade do mercado. Não adianta o BC anunciar compra se o mercado não quiser vender. Lembramos que agora em 2010, o BC retomou as duas atuações diárias em 15 de abril, quando a moeda rompeu a linha de R$ 1,74. A estratégia se repetiu por mais três vezes quando a moeda voltou a furar esse mesmo R$ 1,74. A última atuação dupla foi no dia 3 de maio. Depois disso, o BC teve “ajuda” da crise das dívidas soberanas da Europa, que aumentou a demanda por dólar e levou a moeda para cima de R$ 1,85
Há quem afirme que a força do real seja resultado mais de especulação do que qualquer outra coisa, já que o real é a segunda moeda mais negociada do mundo nos mercados de derivativos, mas não tem aceitação física fora do Brasil. No entanto, a valorização do real contribui para a contenção das expectativas inflacionárias, trazendo-as para proximidades do centro da meta estipulada pelo governo.
É natural que a direção da taxa câmbio seja para baixo. Basta olhar para a posição vendida (aquela que ganha com a queda do dólar) dos bancos no mercado à vista, que passa dos US$ 14 bilhões, e dos estrangeiros, que chega a US$ 5,8 bilhões, no mercado futuro. O raciocínio que embasa a formação dessas posições é bastante lógico. Afinal, são aguardados bilhões de dólares em ingresso da capitalização da Petrobras e outro ingresso via emissão externa de empresas. A grande interrogação é o que acontecerá depois que essa onda de dólares entrarem no país e os agentes zerarem essa posição. Segundo um especialista, “o mercado vive de oscilação, não importa para que lado”, frase que vai de encontro ao caráter especulativo do real nos mercados futuros e se o governo não quisesse a taxa de câmbio no nível em que está já teria tomado outras medidas mais efetivas do que a compra de dólares no mercado à vista. Entre essas medidas, o mesmo especialista defende a limitação na exposição cambial com relação ao patrimônio líquido das instituições. Dessa forma, seria possível limitar o tamanho das posições vendidas e reduzir a pressão de baixa sobre a taxa de câmbio.
Esse movimento especulativo foi identificado pelos economistas do governo que defendem que o mercado seja surpreendido com as compras do Fundo Soberano e com a possibilidade de o Banco Central alterar os limites que os bancos têm para operar com câmbio. Ao contrário do BC, que divulga ao mercado suas operações diárias, a entrada do Fundo não é precedida de uma comunicação. Nesse sentido, o BC e Ministério da Fazenda estão discutindo uma série de medidas para conter uma valorização ainda maior do real, na tentativa de impedir que o dólar recue abaixo dos R$ 1,70. Algumas medidas já são conhecidas e apenas o momento de uso de uma delas é que ainda está em discussão: a oferta de “swap cambial reverso”, que equivale a uma compra de dólar no mercado futuro. Esse tipo de operação é usado para equilibrar as apostas no mercado futuro sobre a tendência do dólar. Os rumores são de que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria desaconselhado a operação pelo seu elevado custo. Esse impedimento, no entanto, já foi removido. O BC já dispõe de pareceres jurídicos garantindo a operação e eliminando os temores do TCU. A questão agora é acertar a estratégia em que o timing e o elemento surpresa se reforcem e impeçam a excessiva valorização do real. Mas, é intrigante uma surpresa avisada, não?!
Quanto à capitalização da Petrobrás, que muitos identificam como um momento de vulnerabilidade para a excessiva valorização do real, a operação poderia ser administrada sem afetar fortemente o mercado de câmbio. O governo poderá estabelecer um cronograma para o ingresso dos dólares da participação estrangeira na capitalização. A Petrobrás não precisa trazer os dólares de uma única vez, poderia deixar dinheiro lá fora para, por exemplo, pagar fornecedores estrangeiros e isso impediria que a tendência baixista do dólar se mantivesse. Segundo um analista, passada a operação da estatal, a tendência será por valorização do dólar, por causa do crescente aumento do déficit em conta corrente do Brasil (que registra as operações do País com o exterior). Pois, além da expectativa de entrada do dinheiro relativo à capitalização da Petrobrás e do aumento das captações externas, outro fator tem contribuído, há mais tempo, para a alta do real: a especulação de investidores que querem aproveitar a diferença entre a taxa de juros brasileira e a de outros países, sobretudo desenvolvidos. Aqui, a taxa básica (Selic) está em 10,75% ao ano. Nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, está perto de zero.
Em se tratando de dólares no exterior, segundo dados do BC a soma não internada no país totalizava US$ 17,3 bilhões até o mês passado. E a pergunta que fica é o que o exportador faz com esses US$ 17 bi? Numa tentativa de conter o ingresso de dólares no país, o Ministério da Fazenda, em 2008, autorizou o exportador a deixar até 100% dos recebíveis de exportação no exterior. E é isso que eles estão fazendo. Mas não faz sentido pensar que os exportadores estão apenas esperando a cotação do dólar ficar mais favorável à conversão ou para atender seus compromissos. Pois, mesmo com a taxa desfavorável ainda seria mais interessante trazer o dinheiro e aplicar no mercado local, que oferece rendimento mais atraente do que os juros pagos no mercado externo. Uma solução possível é repassar esses dólares aos bancos, que vendem a moeda no mercado local ao BC – que estimula a formação de posição vendida comprando dólares em quantidade superior ao fluxo. Feito isso, o banco repassa esses reais aos exportados cobrando um juro mais alto que o praticado pelo mercado. Agora, a primeira vista isso não deve preocupar a autoridade monetária. Afinal, o aumento da posição vendida dos bancos no mercado à vista tem contraparte em moeda que está no exterior. No caso de alta do preço da divisa americana, esse exportador desmancha a operação que tiver com o banco e ingressa com a moeda no mercado local. Moeda essa que dará cobertura à posição vendida do banco. Claro que o banco pode ter alguma perda dependendo da variação cambial em questão.
Na pesquisa do Boletim Focus do BC a expectativa do mercado para taxa de câmbio no final do ano, após 23 semanas cravada em R$ 1,80, caiu novamente e está em R$ 1,77. A previsão de déficit em conta corrente mantém-se em US$ 50,00 bilhões. A projeção da balança comercial manteve-se inalterada pela quinta vez consecutiva em US$ 15,00 bilhões. O IPCA – que desde nosso relatório semanal de 31/05 a 04/06 afirmamos estar em trajetória de baixa – pela primeira vez no ano fica abaixo de 5%, indo para 4,97%, abaixo do centro da meta  governamental de 4,50% para o fim do ano.

Giovani Damiano

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Funcafé pode ser usado para operação no mercado futuro

Abaixo segue uma notícia do Conselho Monetário Nacional que reflete a importância da utilização de ferramentas do mercados de futuros e derivativos para o gerenciamento de risco de preços. Projetar fluxo de caixa, garantir vendas a preços mínimos, participar de ganhos em viradas de mercado fazem parte das diversas estratégias que podem ser usadas nas bolsas. 
Apesar do receio nas operações e a crença generalizada do caráter especulativo dos contratos futuros, o hedge (proteção) não tem a menor proximidade com isso. A definição do hedge é que a posição assumida no mercado futuro é oposta à do físico. Assim, o produtor que tem café em estoque entra vendido no mercado garantindo seus preços. Pode-se desenvolver a estratégia e caso o mercado suba, ele ganhe no futuro também, mas com um custo adicional que precisa ser avaliado.
Em suma, as estratégias que podem ser utilizadas são diversas, atendem a quaisquer necessidades, não deixam o agente sofrer com os riscos das oscilações de preço - como os -8% da terça - e garantem tranquilidade.


PS: não deixem de ler na publicação anterior, o artigo sobre o mercados futuros agropecuários para compreender melhor o tema.
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O CMN aprovou a criação de uma linha especial de crédito no valor de R$ 50 milhões para financiar o pagamento dos custos operacionais, margens e taxas das operações do mercado futuro de café. 
Os recursos são do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira). “O foco é fazer a distribuição das operações no mercado futuro do grão no momento em que o preço do mercado está rentável”, explicou Gilson Bittencourt. “Se incentivo a venda futura, escalono melhor a oferta”.
A linha especial de crédito poderá financiar até 100% do valor exigido em bolsas de mercadorias e de futuro limitado a R$ 80 mil por produtor e, no caso de cooperativa de produção, o resultado da multiplicação de R$ 40 mil pela quantidade de cooperados ativos que tenham depositado a produção de café. 
Os cafeicultores poderão contratar a linha até o dia 1º de dezembro de 2010, com prazo de reembolso coincidente com o prazo de liquidação da operação de mercado de futuros ou de opções, limitado a 360 dias contados a partir da data de contratação, à taxa de juros de 6,75% a.a.


Fonte: Assessoria de Comunicação Social - GMF


http://www.fazenda.gov.br/audio/2010/agosto/a250810.asp

Mercados futuros agropecuários

Aqui segue o link de um texto curto, porém denso, sobre a importância do mercado de futuros agrícolas:


http://avisoemdois.com.br/educacao-financeira/mercados-futuros-agropecuarios/

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Relatório diário referente ao dia 12/08


1.    Preço em NY, Londres e BM&F
Os fortes ganhos de NY foram correlacionados com informações sobre a chegada de frente fria e queda nas temperaturas nas regiões produtoras do Brasil. Rompimento de resistência disparou mais ordens de compra, e não à toa, o volume foi de 56.289 contratos negociados. Além do mais, a recompra de posições vendidas favoreceu a alta. Setembro/10 fechou em US$ 175,55 cents/lb, alta de 495 pontos. Hoje, conforme já avisamos ontem, vencem opções de set/10.
Londres subiu com baixo volume devido ao desinteresse da indústria e ausência de novas notícias. Os ganhos foram limitados devido a expectativa de safra elevada no Vietnã. Volume de negócios foi baixo, 15.683. Cobertura de posições vendidas sustentou o mercado. Setembro/10 encerrou em US$ 1.735/ton, aumento de 27 pontos.
BM&F foi favorecida pela defesa de posições de fundos em NY, dado o vencimento de opções. Alto volume, 3.312, impulsionou o mercado nacional. Setembro/10 terminou em US$ 209,45/saca, ganhos de US$ 7,00/saca.
2.    Fundamentos
As exportações de café do México recuaram 20% em julho de 2010, atingindo 187.131 sacas de 60 quilos, no comparativo com igual mês do ano passado. As informações partem do Ministério da Agricultura do México, segundo noticiaram agências internacionais de notícias. Julho é o décimo mês da temporada 2009/10, que vai de outubro de 2009 a setembro de 2010. A receita com as exportações de julho chegaram a US$ 40 milhões, levemente abaixo das US$ 41 milhões que o México somou em julho do ano anterior. Nos dez primeiros meses da temporada 2009/10, ou seja, no acumulado de outubro/julho, os embarques são de 2,24 milhões de sacas, 5,9% menos que as 2,38 milhões de sacas do mesmo período da temporada 2008/09. A receita com os embarques de outubro 2009 a julho 2010 no acumulado está em US$ 435 milhões, contra US$ 425 milhões emigual período da temporada 2008/09. (Safras)
3.    Mercado local
No mercado físico, a alta de NY estimulou apenas demanda acentuada para grãos melhores (bebida dura), enquanto que os de segunda linha (rio) não tiveram muito interesse de compra, permanecendo com preços estáveis.

4.    Câmbio
A pressão de novas notícias do exterior mostrando a fragilidade da recuperação econômica global levou o mercado doméstico de câmbio a um desmonte de posições vendidas, mas a perspectiva de que o fluxo continue positivo fez com que, no final, o dólar ficasse praticamente no zero a zero. De qualquer forma, os operadores acreditam que nesta quinta-feira a alta do dólar frente a outras moedas tenha sido um movimento imediatista porque, caso os Estados Unidos tenham que sucumbir à adoção de outras medidas de estímulo à economia, entendem que o dólar tende a se depreciar em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o número de trabalhadores que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio-desemprego subiu 2 mil na semana até 7 de agosto, após ajustes sazonais, para 484 mil solicitações - o nível mais alto desde a semana encerrada no dia 20 de fevereiro deste ano. Os dados se somaram à redução no ritmo de crescimento da economia chinesa vista ontem e à queda na produção industrial da zona do euro divulgada hoje. No bloco europeu, a produção industrial recuou 0,1% em junho sobre maio, enquanto a expectativa era de alta de 0,5%. Anualmente, houve alta de 8,2%, ao passo que o consenso era de avanço de 9,1%, segundo a Dow Jones. No mercado local, a alta do dólar continua a encontrar limitador na perspectiva de fluxo de recursos ao País. O Banco Central decidiu fazer de manhã o leilão de compra no mercado à vista que tem feito diariamente desde 8 de maio de 2009. Para um operador, a decisão pelo horário pode estar ligada a algum fluxo de entrada que o BC soubesse e, por isso, a autoridade monetária decidiu se antecipar no enxugamento da liquidez. O leilão aconteceu por volta das 12h45 e a taxa de corte das propostas foi fixada em R$ 1,7697. Em encontro com a imprensa para apresentar o relatório de gestão das reservas internacionais, o diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, afirmou que o BC ainda não tomou uma decisão sobre ofertar contratos de swap cambial reverso.. Dólar comercial ficou em R$ 1,774, apreciação de 0,23%.



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Auto-Sabotagem

Neste artigo, falaremos superficialmente sobre um problema com que o trader deve saber lidar: ele mesmo. As Finanças Comportamentais estudam os vieses heurísticos comuns na tomada de decisões, dentre os quais, alguns que afetam diretamente os investimentos. Mas, aqui vamos apenas abordar um ponto que cabe mais à esfera psicológica/psicanalítica aprofundar.

Sejam com nós mesmos, com amigos ou com colegas profissionais, já tivemos conhecimento de diversos exemplos de trades “burros”. Defino-os como sendo aqueles em que ficamos tentando entender por que entramos numa posição na qual havia fortes indícios para se assumir exatamente a ponta contrária. E na maioria dos trades burros também não há stop, o que é ainda mais estranho, porque está é a forma mais simples de gerenciar riscos, delimitando pontos de entrada e saída (isto é, lucros e prejuízos máximos). No abandono dos stops, as Finanças Comportamentais dão uma mão dizendo que ocorreu esperança pela recuperação através do otimismo exagerado ou excesso de confiança na tomada de decisão. Para esses casos aparentemente inexplicáveis de erros, a Psicologia e Psiquiatria contribuem elucidativamente.

Dr. Alexander Elder em sua longa experiência como psiquiatra convenceu-se de que a maioria dos fracassos da vida resulta de um desejo inconsciente de fracassar. E explica que isso ocorre quando atuamos como “crianças impulsivas, em vez de como adultos inteligentes”. Observe-se o seguinte caso clínico:

Um importante investidor procurou-me para uma consulta. Seu patrimônio estava sendo destruído por forte alta no dólar, em que assumira grande posição vendida. Analisando seus antecedentes, descobri que ele fora criado às turras com um pai repulsivo e arrogante. Tornara-se conhecido por seus próprios méritos ao apostar muito dinheiro em reversões de tendência em curso. Esse investidor continuou a aumentar sua posição vendida, pois não podia admitir que o mercado, que para ele representava seu pai, fosse maior e mais forte do que ele. (ELDER, 2004, p. 29)

A deflagração da auto-sabotagem ocorreria segundo o também psiquiatra Dr. Flávio Gikovate, da seguinte maneira:

Quando nos aproximamos muito de um estado vivenciado como sendo de plenitude, de que não nos falta nada – e o amor bem-sucedido corresponde a uma das situações nas quais sentimos isso –, passamos a experimentar um medo difuso, a viver uma sensação de ameaça e de riscos iminentes. Parece que alguma grande tragédia passa a nos rondar e, a qualquer momento, nos alcançará. O estado de pânico e pavor pode ser tal que não consigamos vislumbrar outra saída a não ser destruir aquilo que está “provocando” a felicidade e também o medo. (GIKOVATE, 2005, p. 46)

Conclusão e sugestão: “A bagagem mental da infância pode impedir o seu sucesso nos mercados. Você precisa identificar os seus pontos fracos para mudar. Mantenha um diário sobre suas operações de mercado – anote nele as razões que o levaram a entrar ou a sair de todas as posições. Busque padrões repetitivos de sucesso ou fracasso” (ELDER, 2004, p. 29). A solução, então, para resolver isso é a busca pelo autoconhecimento.
Os mercados oferecem muitas oportunidades de autodestruição. Não têm uma solidariedade humana normal. Todos os operadores no mercado tentam bater nos outros. Todos os operadores de mercado são atingidos pelos demais. Afinal, ao contrário do que muitos dizem, investimentos em mercados financeiros não são jogos de soma zero, mas sim de soma negativa: os ganhadores recebem menos do que os perdedores levam de prejuízo porque os intermediadores da operação – corretoras, bolsas e assessores financeiros – precisam receber suas comissões, em outras palavras, as chances estão contra o aplicador.

Outro aspecto ligado a isso é o modo pelo qual o caráter afeta o comportamento do agente no mercado, que pode explicar alguns casos de auto-sabotagem. Note-se a citação: “A culpa não pode existir a não ser depois de determinado grau de sofisticação da razão, que nos permite a operação psíquica um tanto sutil de tentarmos nos colocar no papel de outra pessoa e imaginar o sofrimento dela por conta do que teríamos causado” (GIKOVATE, 2005, p. 24). A partir disso, pode-se dizer que pessoas com caráter generoso não são as mais adequadas a participar dos mercados, pois, se ficarem preocupadas com o bem-estar de seus semelhantes, poderão se sentir culpadas por serem bem-sucedidas, isto é, tirar dinheiro dos outros, já que para isso, é necessário que haja o fracasso na outra ponta. Assim, podem, através de um mecanismo inconsciente causado pelo seu altruísmo pernicioso, devolver seus ganhos na busca de uma equidade distributiva social, visando um bem-estar geral. Logo, o trader pode até compreender como outro agente se frustra e se sente diante de uma perda – isto é denominado de empatia afetiva, que é relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia –, mas, para o caso específico de um caráter generoso, a identificação precisa ser eliminada para não desencadear a auto-sabotagem.

Cada investidor tem seus próprios demônios a exorcizar no esforço de tornar-se um profissional bem sucedido. Pelo exposto acima, pode-se dizer que os vencedores precisam pensar sentir e agir de maneira diferente dos perdedores. Uma regra para a profissionalização dos investimentos financeiros seria “olhar para dentro de si mesmo, deixar de lado as ilusões e mudar as velhas maneiras de ser, pensar e agir. A mudança é difícil, mas se quiser ser um investidor profissional, você deve empenhar-se em mudar sua personalidade” (ELDER, 2004, p. 46). Assim, não é de se estranhar que algumas corretoras brasileiras ofereçam serviços de psicólogos a seus clientes.

Para qualquer tentativa de mudança temos que conseguir nos livrar das crenças. Isso não é fácil, pois elas funcionam como nosso alicerce intelectual, como base de uma estrutura psíquica que nos sustenta ao mesmo tempo em que nos empobrece. As crenças nos reasseguram nos impedem de termos de conviver com dúvidas. Acontece que, como dizia Ortega, nosso vigor intelectual está diretamente relacionado com nossa capacidade de suportar dúvidas. Costumamos preferir explicações apressadas e singelas ao convívio doloroso com as dúvidas. Porém, a criatividade humana depende de nos dispormos a vivenciar o estado de desconforto próprio dos que não sabem e que são os que poderão, em algum momento, ter idéias – e não apenas repetir com pompa as velhas crenças. (GIKOVATE, 2005, p. 88)

Referências:

ELDER, Alexander. Como se tornar um operador e investidor de sucesso. 13a ed. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2004. 305 p.

GIKOVATE, Flávio. O mal, o bem e mais além: egoístas, generosos e justos. São Paulo: MG Editores, 2005. 155 p.

Giovani Damiano