As duplas atuações do BC comprando dólares através de leilão no mercado à vista voltaram a ocorrer nesta semana E durante três dias seguidos, de quarta a sexta-feira. O efeito sobre o câmbio é momentâneo na movimentação do dia, mas sinaliza que o BC está atento ao mercado. Alguma mudança de fato talvez pudesse ser observada se o BC pagasse cotações acima das praticadas pelo mercado, mas isso não faz parte do seu histórico de atuação. De qualquer forma, a efetividade do leilão à vista depende da boa vontade do mercado. Não adianta o BC anunciar compra se o mercado não quiser vender. Lembramos que agora em 2010, o BC retomou as duas atuações diárias em 15 de abril, quando a moeda rompeu a linha de R$ 1,74. A estratégia se repetiu por mais três vezes quando a moeda voltou a furar esse mesmo R$ 1,74. A última atuação dupla foi no dia 3 de maio. Depois disso, o BC teve “ajuda” da crise das dívidas soberanas da Europa, que aumentou a demanda por dólar e levou a moeda para cima de R$ 1,85
Há quem afirme que a força do real seja resultado mais de especulação do que qualquer outra coisa, já que o real é a segunda moeda mais negociada do mundo nos mercados de derivativos, mas não tem aceitação física fora do Brasil. No entanto, a valorização do real contribui para a contenção das expectativas inflacionárias, trazendo-as para proximidades do centro da meta estipulada pelo governo.
É natural que a direção da taxa câmbio seja para baixo. Basta olhar para a posição vendida (aquela que ganha com a queda do dólar) dos bancos no mercado à vista, que passa dos US$ 14 bilhões, e dos estrangeiros, que chega a US$ 5,8 bilhões, no mercado futuro. O raciocínio que embasa a formação dessas posições é bastante lógico. Afinal, são aguardados bilhões de dólares em ingresso da capitalização da Petrobras e outro ingresso via emissão externa de empresas. A grande interrogação é o que acontecerá depois que essa onda de dólares entrarem no país e os agentes zerarem essa posição. Segundo um especialista, “o mercado vive de oscilação, não importa para que lado”, frase que vai de encontro ao caráter especulativo do real nos mercados futuros e se o governo não quisesse a taxa de câmbio no nível em que está já teria tomado outras medidas mais efetivas do que a compra de dólares no mercado à vista. Entre essas medidas, o mesmo especialista defende a limitação na exposição cambial com relação ao patrimônio líquido das instituições. Dessa forma, seria possível limitar o tamanho das posições vendidas e reduzir a pressão de baixa sobre a taxa de câmbio.
Esse movimento especulativo foi identificado pelos economistas do governo que defendem que o mercado seja surpreendido com as compras do Fundo Soberano e com a possibilidade de o Banco Central alterar os limites que os bancos têm para operar com câmbio. Ao contrário do BC, que divulga ao mercado suas operações diárias, a entrada do Fundo não é precedida de uma comunicação. Nesse sentido, o BC e Ministério da Fazenda estão discutindo uma série de medidas para conter uma valorização ainda maior do real, na tentativa de impedir que o dólar recue abaixo dos R$ 1,70. Algumas medidas já são conhecidas e apenas o momento de uso de uma delas é que ainda está em discussão: a oferta de “swap cambial reverso”, que equivale a uma compra de dólar no mercado futuro. Esse tipo de operação é usado para equilibrar as apostas no mercado futuro sobre a tendência do dólar. Os rumores são de que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria desaconselhado a operação pelo seu elevado custo. Esse impedimento, no entanto, já foi removido. O BC já dispõe de pareceres jurídicos garantindo a operação e eliminando os temores do TCU. A questão agora é acertar a estratégia em que o timing e o elemento surpresa se reforcem e impeçam a excessiva valorização do real. Mas, é intrigante uma surpresa avisada, não?!
Quanto à capitalização da Petrobrás, que muitos identificam como um momento de vulnerabilidade para a excessiva valorização do real, a operação poderia ser administrada sem afetar fortemente o mercado de câmbio. O governo poderá estabelecer um cronograma para o ingresso dos dólares da participação estrangeira na capitalização. A Petrobrás não precisa trazer os dólares de uma única vez, poderia deixar dinheiro lá fora para, por exemplo, pagar fornecedores estrangeiros e isso impediria que a tendência baixista do dólar se mantivesse. Segundo um analista, passada a operação da estatal, a tendência será por valorização do dólar, por causa do crescente aumento do déficit em conta corrente do Brasil (que registra as operações do País com o exterior). Pois, além da expectativa de entrada do dinheiro relativo à capitalização da Petrobrás e do aumento das captações externas, outro fator tem contribuído, há mais tempo, para a alta do real: a especulação de investidores que querem aproveitar a diferença entre a taxa de juros brasileira e a de outros países, sobretudo desenvolvidos. Aqui, a taxa básica (Selic) está em 10,75% ao ano. Nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, está perto de zero.
Em se tratando de dólares no exterior, segundo dados do BC a soma não internada no país totalizava US$ 17,3 bilhões até o mês passado. E a pergunta que fica é o que o exportador faz com esses US$ 17 bi? Numa tentativa de conter o ingresso de dólares no país, o Ministério da Fazenda, em 2008, autorizou o exportador a deixar até 100% dos recebíveis de exportação no exterior. E é isso que eles estão fazendo. Mas não faz sentido pensar que os exportadores estão apenas esperando a cotação do dólar ficar mais favorável à conversão ou para atender seus compromissos. Pois, mesmo com a taxa desfavorável ainda seria mais interessante trazer o dinheiro e aplicar no mercado local, que oferece rendimento mais atraente do que os juros pagos no mercado externo. Uma solução possível é repassar esses dólares aos bancos, que vendem a moeda no mercado local ao BC – que estimula a formação de posição vendida comprando dólares em quantidade superior ao fluxo. Feito isso, o banco repassa esses reais aos exportados cobrando um juro mais alto que o praticado pelo mercado. Agora, a primeira vista isso não deve preocupar a autoridade monetária. Afinal, o aumento da posição vendida dos bancos no mercado à vista tem contraparte em moeda que está no exterior. No caso de alta do preço da divisa americana, esse exportador desmancha a operação que tiver com o banco e ingressa com a moeda no mercado local. Moeda essa que dará cobertura à posição vendida do banco. Claro que o banco pode ter alguma perda dependendo da variação cambial em questão.
Na pesquisa do Boletim Focus do BC a expectativa do mercado para taxa de câmbio no final do ano, após 23 semanas cravada em R$ 1,80, caiu novamente e está em R$ 1,77. A previsão de déficit em conta corrente mantém-se em US$ 50,00 bilhões. A projeção da balança comercial manteve-se inalterada pela quinta vez consecutiva em US$ 15,00 bilhões. O IPCA – que desde nosso relatório semanal de 31/05 a 04/06 afirmamos estar em trajetória de baixa – pela primeira vez no ano fica abaixo de 5%, indo para 4,97%, abaixo do centro da meta governamental de 4,50% para o fim do ano.
Giovani Damiano
Giovani Damiano
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