quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pharos no Valor econômico


8/09/2013 às 00h00

Commodities Agrícolas




Chuvas benéficas O café arábica desabou ontem em Nova York, pressionado pela melhora do clima no Brasil. Os lotes para dezembro fecharam em queda de 430 pontos, a US$ 1,1495 por libra-peso. De acordo com Felipe Kamia, consultor da Pharos, os traders estavam preocupados com a possibilidade de a falta de umidade no Brasil prejudicar as lavouras. "Entretanto, a frente fria chegou e trouxe chuvas benéficas, que tendem a favorecer a floração da próxima safra, 2014/15. Esse cenário atraiu vendas especulativas", explicou. As chuvas devem seguir pelo menos até quinta-feira no sul de Minas Gerais e na Zona da Mata, importantes polos de produção no Brasil. No mercado doméstico, a saca de 60,5 quilos do café de boa qualidade oscilou entre R$ 285,00 e R$ 290,00, segundo o Escritório Carvalhaes.

Diferença de preços entre café arábica e robusta volta a cair



Diferença de preços entre café arábica e 


robusta volta a cair


Por Carine Ferreira | De São Paulo
O recente estreitamento da diferença entre os preços internacionais dos cafés arábica e robusta - que, aos poucos, volta aos níveis do início da década passada - reacendeu o debate sobre os impactos desse movimento sobre o futuro da demanda pelas duas espécies do produto em tempos de grande expansão do consumo do grão menos nobre, principalmente para a fabricação de café solúvel e uso nos blends de torrado e moído.
Do ano 2000 até agora, a diferença entre as cotações do arábica, mais nobre e valorizado, e as do robusta foi de US$ 0,30 e US$ 0,56 por libra-peso durante 50% do tempo. Foi a acima de US$ 0,56 por 40% do período, e abaixo de US$ 0,30 nos demais 10%, segundo levantamento da empresa de gestão de risco de commodities Pharos. "O preço tende a voltar a essa média", diz Moris Mermelstein, consultor sênior da Pharos.
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De acordo com o Valor Data, desde 2000 o menor diferencial médio mensal foi em março de 2003 (US$ 0,2664), e o mais alto em abril de 2011 (US$ 1,7343). Em determinados períodos de 1989, 1992 e 2003 a diferença ficou negativa - ou seja, o robusta esteve mais valorizado que o arábica, por questões conjunturais. O maior spread negativo diário foi em novembro de 2003, de - US$ 0,4545 por libra-peso, com base em dados compilados pela Pharos.
Segundo Mermelstein, "não nos surpreenderia se esse diferencial chegasse a zero", dada a forte demanda de café robusta e o excesso de oferta de arábica que pressiona esse diferencial, embora na comparação "preço por preço" o arábica de algumas origens é muito mais caro que o robusta diante dos prêmios altos sobre as cotações de bolsa.
Mermelstein observa que, historicamente a demanda por arábica tende a voltar, principalmente pelo produto de pior qualidade. Nos últimos dois a três anos houve uma mudança significativa no blend do café torrado e moído, com maior uso de robusta, mais barato, principalmente em função da crise. Mas, segundo ele, os exportadores não estariam ainda desfazendo negócios com o robusta a favor do arábica, o chamado "wash out", quando há um pagamento de prêmio para se desfazer um contrato.
Mermelstein afirma que o preço baixo do arábica ainda não foi suficiente para fazer uma nova substituição do robusta pelo arábica. "Com os preços atuais tende a ter substituição no médio prazo - de seis meses a um ano". Mas nada que possa arrefecer a demanda por robusta, que passa a ter um mercado ativo, o café solúvel, pontua.
Entretanto, a relação dos diferenciais dos dois cafés não pode ser levada à risca como indicativo de demanda por arábica e robusta, na avaliação de Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees. Para ele, é preciso considerar que houve melhora significativa na qualidade do robusta nos últimos dez anos, novas tecnologias e a manutenção do nível de consumo mesmo com o maior uso de robusta nos blends.
De acordo com Costa, a arbitragem (diferencial) precisaria ficar abaixo de US$ 0,40 a US$ 0,35 por libra-peso por um período aproximado de três meses para que houvesse uma decisão de usar mais café arábica em detrimento do robusta. "Por enquanto, essa decisão não ocorreu", diz ele.
Costa crê que a demanda por robusta vai continuar firme. "É justamente a troca pelo preço", declara. (ver matéria ao lado). E justifica com o baixo custo de produção da espécie. No Vietnã, o custo para se produzir uma tonelada é de cerca de US$ 1,2 mil, enquanto o produto é comercializado por US$ 2 mil, conforme Costa. No Brasil, gasta-se de R$ 150 a R$ 220 para produzir uma saca, e se recebe R$ 250.
Mesmo se houvesse um retorno da maior demanda por arábica, Costa estima que não seria suficiente para reverter o superávit atual, uma das razões para a queda nos preços internacionais do produto.


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Oferta abundante faz preços do café caírem ao patamar de 2007


27/06/2013 às 00h00

Oferta abundante faz preços do café caírem ao patamar de 2007



Por Carine Ferreira | De São Paulo
Depois de superarem US$ 3 por libra-peso em 2011, os preços futuros do café na bolsa de Nova York voltaram aos níveis de US$ 1,20 nos últimos dias e ontem os papéis de segunda posição de entrega fecharam abaixo disso: US$ 1,1845. O patamar de US$ 1,20 é semelhante à média de 2007 e superior ao da crise dos anos 2000, quando o excesso de produção mundial derrubou as cotações.
Diante das últimas estimativas de colheita, consumo e estoques mundiais, o mercado parece conformado com o superávit que se apresenta. E o horizonte é negativo para as cotações internacionais e para os preços pagos ao produtor no Brasil, segundo analistas e representantes do setor - a menos que haja alguma intervenção do governo no mercado.
 
O patamar de US$ 1,20 que vinha sendo mantido na bolsa de Nova York também pode ser considerado uma média dos últimos dez anos, conforme Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees, mas os custos de produção aumentaram. O custo operacional efetivo calculado pela Comissão de Café da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em Manhumirim (MG), por exemplo, saiu de R$ 345,18 em 2011 para R$ 391,43 em 2012 (para a safra que está sendo colhida este ano), alta de 13,4%.
"Não acho que vai abaixo de US$ 1,10, mas também não acho que vai passar de US$ 1,30 [a libra-peso]", afirma Costa, sobre as cotações do produto em Nova York. Na sua avaliação, existe café disponível de várias origens, situação que surgiu como efeito dos preços altos que levaram os cafeicultores a segurar o produto. Além disso, as perspectivas são de safras volumosas no Brasil e Vietnã e recuperação da produção na Colômbia, segundo Costa. E no momento em que a oferta de café é abundante, a demanda por parte de torrefadores no exterior não é "agressiva", acrescenta.
Há quem esteja mais pessimista. Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado, vê risco de o café buscar patamares abaixo de US$ 1,20 e até caminhar para US$ 1 com a entrada da safra brasileira, que está sendo colhida. Há ainda a expectativa de que o ciclo 2014 seja maior que 2013 se o clima for favorável, além da entrada de safras de outros países. "Tudo isso está montando um cenário de crise", observa ele.
No mercado físico de café, a comercialização segue atrasada com os produtores relutantes em vender o produto a preços baixos e aguardando medidas do governo para "enxugar" o mercado. Segundo cálculos de Barabach, considerando preços deflacionados, o café tipo 6 do Sul de Minas, na base maio, foi cotado a R$ 307 por saca, o menor valor após o auge da crise do início da década passada (entre a segunda metade de 2001 e setembro de 2002). "O poder de compra só é maior que no período de crise. Estamos convergindo para a realidade de 2002", diz.
O que poderia conter essa queda, na sua opinião, seria uma entrada mais "ativa" do governo brasileiro no mercado. Na semana passada, o governo anunciou a distribuição dos recursos para o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que totalizam R$ 3,16 bilhões. Nesta semana, o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, disse que o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá aprovar, na próxima reunião, mais R$ 390 milhões para leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) ao segmento.
Outro fator que "pesa" sobre o mercado internacional de café é a estimativa de consumo menor que a produção mundial pelo quarto ano consecutivo, observa Rodrigo Costa, com base em dados divulgados semana passada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). De acordo com o órgão, a produção mundial em 2013/14 deve alcançar 146,3 milhões de sacas ante um consumo de 141,8 milhões de sacas e estoques finais de 30,5 milhões. Os estoques são estáveis frente à safra anterior, mas 5 milhões de sacas superior a 2011/12.
A percepção da maioria dos analistas de mercado é de que existe muito café estocado no Brasil. Mesmo após o anúncio da distribuição de recursos do Funcafé, com maior volume de dinheiro para estocagem, o mercado avalia que uma hora ou outra haverá oferta de café no mercado, segundo Thiago Cazarini, da Cazarini Trading Company. "Infelizmente o mercado analisa o volume".
De acordo com estimativas da Pharos Commodity Risk Management, os estoques finais no Brasil na safra 2012/13 atingem 11,818 milhões de sacas ante 6,542 milhões em 2011/12. Para 2013/14, a projeção para os estoques finais é de 12,05 milhões de sacas.
Ainda que as informações "baixistas" prevaleçam, representantes da cafeicultura estimam que não existe um volume muito grande de café no mercado, levando em conta os compromissos de exportação, o consumo nacional e a produção projetada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 48,59 milhões de sacas em 2013/14.
Moris Mermelstein, da Pharos, acredita que os preços do café, em 2014, podem oscilar entre US$ 1,15 e US$ 1,40 por libra-peso, mas só devem se recuperar em 2015, como consequência do chamado ciclo do café: os preços altos dos últimos anos incentivaram investimentos e maior produtividade. Com o cenário atual, produtores deverão reduzir o uso de insumos, o que pode afetar a qualidade e o rendimento para as próximas duas safras. Por isso, a tendência, diz Mermelstein, é de que oferta e demanda se ajustem.

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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O risco do hedge: comentários para o mercado de café


Para aqueles que acreditam que hedge é suficiente para se proteger do risco de preços, lamentamos informar que não, não é. Este artigo esclarece que em algumas ocasiões, o hedge pode estar sujeito a tantos lucros ou prejuízos quanto especulação com contratos futuros. Em vista disso, assumir no mercado de derivativos uma posição contrária à do mercado à vista – definição de hedge – não é suficiente para garantir margens operacionais mínimas à comercialização de determinados tipos de café físico.
Essas margens, sejam estas lucrativas ou não no momento da proteção, necessitam de um gerenciamento ininterrupto. Devem-se acompanhar rigorosamente as posições assumidas e as mudanças nos mercados para eventualmente alterar a estratégia frente aos novos fatos. O intuito é maximizar a rentabilidade do hedge, definindo quando encerrar antecipadamente a posição no físico ou quando alterar a estratégia no mercado de futuros. Para cada cenário de possibilidades, uma atitude reativa deve estar previamente traçada.
Todos os participantes das atividades comerciais de uma commodity estão sujeitos ao risco de variação de preços locais, que dependem essencialmente dos fundamentos e das cotações internacionais, além do desempenho da economia mundial. Como a proteção que pode ser feita é limitada, para contornar esta situação, existe uma ferramenta estatística para minimizar o risco.
Risco de preços para os diferentes participantes
Os produtores são os que correm os maiores riscos: preocupações com disponibilidade de mão-de-obra, clima, qualidade do solo, pragas, manipulação na pós-colheita, eventuais furtos e etc. Enfim, além de terem que se preocupar com o processo produtivo que resultam no tipo de café, também precisam ficar atentos às cotações do mercado físico para saber se os esforços foram lucrativos ou não. A indústria precisa apenas se preocupar em quando comprar e em quanto pagar no mercado local para processar o café. Já os maquinistas compram de cooperativas, corretores ou produtores para beneficiar o grão e têm a mesma preocupação da indústria. Os exportadores também compram internamente a preços locais, mas para futuramente embarcar com base em referenciais externos, isto é, vendem a preços externos em dólar, por isso sofrem riscos adicionais com as variações cambiais.
Em todos os casos, existe um intervalo temporal entre a operação de compra e/ou venda, e nesse período a variação de preços pode tanto ser favorável como desfavorável. No sentido de mitigar essas variações, existe a opção em preservar a rentabilidade (positiva ou negativa) do negócio através do hedge. A proteção pode ocorrer em contratos futuros, opções, contratos a termo e swaps. As duas primeiras ocorrem nas bolsas de futuros, enquanto as duas últimas, no mercado de balcão (overt-the-counter, ou OTC). No artigo, abordaremos apenas a proteção através das bolsas.
Há também os corretores internacionais, que são o meio de comunicação entre os compradores externos e os vendedores nacionais. Eles recebem comissão pelo volume de negócios feitos e preços praticados. Estes agentes não são relevantes para este artigo por não terem necessidade de hedgear (proteger) o café. O hedge que devem fazer é com o câmbio, para proteger o poder de compra de sua comissão em moeda local.
Conceito de diferencial
O tipo de café é definido pela bebida, peneira (tamanho do grão) e quantidade e tipos de defeitos (natureza intrínseca e extrínseca). O café negociado na bolsa de Nova Iorque é o arábica tipo “C” (café lavado). Já na bolsa de Londres, é o café robusta. A bolsa dá o referencial de um tipo específico de café, assim grãos inferiores sofrem um deságio, pois valem menos, e superiores, um ágio por valer mais. A diferença de cotações entre a qualidade da bolsa com outros tipos é chamada de diferencial.
Função das bolsas
As bolsas internacionais de futuros teoricamente refletem, em tempo real, o preço justo do café em nível global. Elas são necessárias, pois a produção ocorre em poucas esferas locais, enquanto o consumo é geograficamente disperso. Como o consumidor quer pagar o menor preço possível por determinado tipo de café, ele vai procurar a região que esteja vendendo ao melhor preço e embutir o custo de transporte para saber qual a melhor opção. Por isso, não importa qual o preço adequado que o produtor deveria receber em cima dos custos incorridos, vende mais quem cobra menos. Em outras palavras, os mais eficientes têm mais vantagens.
Porém, as bolsas estão sujeitas a diversas variáveis não apenas ligadas ao mercado de café, consequentemente são observadas distorções nos preços dos contratos futuros que podem prejudicar produtores, indústria ou exportadores. De qualquer forma, as oscilações de preço do produto físico podem desfavorecer os agentes ao piorar os preços de venda ou de compra numa data futura, trazendo prejuízos para atividade. Por isso, a importância em se proteger e buscar um fluxo de caixa previamente definido. As estratégias no mercado de futuros e opções são múltiplas, cada qual com seus respectivos custos, podendo atender a qualquer tipo de necessidade, por isso, são customizadas (únicas para cada cliente em específico).
Risco do hedge
Vamos discutir agora o basis risk (risco de base ou de prêmio). Basis é igual ao preço presente do físico menos cotação do contrato de bolsa com vencimento futuro (em geral o primeiro contrato vigente). O risco de base é a variação nessa diferença causada por alterações não proporcionais entre os dois preços – que devem estar na mesma unidade de medida ao se realizar o cálculo –, ou seja, é o risco intrínseco ao hedge. Note-se que o cálculo do basis e do diferencial é o mesmo, portanto, o basis risk é tanto a diferença entre a qualidade dos tipos de café, mais o risco que está embutido numa ocasional mudança de preços até o vencimento futuro [1] .
Para visualizar o risco do basis, basta pensar nos oito possíveis cenários de mudança. Só não há alteração quando a subida, descida ou estabilidade é idêntica para o café físico e o contrato futuro. Pequenas variações são toleráveis e esperadas em um hedge, mas as variações bruscas são preocupantes.

BASISFÍSICOFUTURO
aumentasobeestável
sobe +sobe -
estáveldesce
desce -desce +
diminuiestávelsobe
sobe -sobe +
desceestável
desce +desce -

Taxa ótima de hedge
Por conta desses oito possíveis cenários, podemos dizer que especular basis tem elevada relação risco/retorno. Já é difícil prever o comportamento futuro da bolsa ou do mercado físico, quanto mais os dois juntos. Entretanto, o comportamento do basis é sazonal, enquanto as oscilações nos contratos futuros e preços de cotação do café físico não seguem um padrão temporal. Por isso, operar basis visando reduzir a vulnerabilidade à volatilidade de preços é uma estratégia adequada. O basis dá a indicação de quando ficar comprado em físico e vendido e futuro ou vice-versa. Mas seu uso é delimitado pela correlação entre o físico e o futuro. Se a correlação for muito baixa, fica difícil enxergar um padrão no basis e, a partir disso, aconselhamos o uso da seguinte ferramenta.
Vamos imaginar que nossa carteira contenha apenas dois ativos: o café físico e o contrato futuro, cada qual oscilando de maneira distinta, apesar da alta correlação em muitos tipos de café. A volatilidade nos dois preços é o risco de base, conforme vimos. Correlação é o quanto uma variável acompanha a variação da outra numa escala que varia de -1 a + 1. Para minimizar o risco de preços desta carteira, precisamos calcular a proporção de proteção em ambos os ativos de forma a determinar o ponto que minimiza ambas as variâncias e, portanto, o risco.
Não vamos entrar em detalhes sobre os cálculos estatísticos, mas, para constar, basta derivar a variância do basis para encontrar seu ponto de mínimo e achar a taxa ótima de hedge que deve ser feita. Isto é, qual a proporção entre contratos futuros e de café físico negociar. Por exemplo, se o valor encontrado for +70% de hedge, isso significa que para cada 100 sacas compradas (vendidas) de físico, deve-se ter 70 sacas vendidas (compradas) em futuros. Por outro lado, se for -10%, então, para cada 100 sacas compradas (vendidas) de físico, o ideal é também comprar (vender) 10 sacas em contratos futuros. Isso é um hedge, apesar de invertido e parecer uma especulação!
Mesmo ao determinar a taxa ótima de hedge, ainda persistem problemas. Estamos trabalhando com dados históricos e o passado não necessariamente indica o que vai acontecer no futuro. Isso quer dizer que a proporção de hedge feita hoje pode mostrar-se inadequada amanhã. Além do mais, existe a dificuldade na seleção do tamanho da amostra. Misturar períodos que claramente tem um padrão estatístico de preços diferentes é um erro. Em conclusão, saber calcular a taxa ótima de hedge não é suficiente se estes dois fatores anteriores não forem ponderados pela sensibilidade do analista.
Conclusão
Para casos em que as correlações entre as variáveis aleatórias começam a se alterar e perder a relevância ou até inverter, pensar nessa ferramenta de minimizar a variância da carteira é uma forma de proteção adequada, apesar de anti-intuitiva ao indicar um hedge, que para os leigos, mais se caracterizaria como especulação. A sensibilidade dos analistas está em reunir os argumentos para explicar qual o tamanho da amostra usar e por quanto tempo serão válidos. Esse tipo de informação é o que valoriza e diferencia as análises de uma consultoria.

________________________________________
[1] A ortodoxia econômica explica que quando as expectativas mudam ou não são satisfeitas, as cotações dos contratos futuros se alteram.

Giovani Damiano – economista pela Unicamp, é responsável pelo departamento de Planejamento e Estatísticas da C.R.M. Pharos

Haroldo Bonfá – economista pela USP, com experiência de 30 anos na indústria de café, é diretor da C.R.M. Pharos

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Previsão para semana de 01 a 05 de novembro

NY ainda continua em tendência altista, mas esta semana os preços andaram de lado, ameaçaram fazer a correção depois da baixa de quinta-feira, mas finalizaram com uma alta expressiva na sexta-feira. A alta de sexta-feira foi favorecida por preocupações climáticas. Os fundamentos de café nós já conhecemos e dão o tom positivo para os preços. Fatores macroeconômicos também ajudam: a guerra cambial está trazendo grandes fundos a procurarem as commodities como investimento seguro e rentável, por isso, a alta generalizada nas commodities. O que temos agora é a volatilidade implícita mais alta indicando para uma nova alta ou uma queda forte, mas não para um mercado negociando por muito tempo próximo de US$ 2,00 por libra. Vamos então ponderar o lado dos touros e dos ursos.
As posições vendidas de 42.917 contratos das casas comerciais equivalem a 12 milhões de sacas descobertas, precisando de cobertura até o final do mês de dezembro. Com o mercado no físico pagando valores acima dos preços cotado na bolsa um rally de alta não é descartado, na medida em que os comprados vão simplesmente esperar os vendidos trocarem de posição e lançar contrato de venda para o mês de março – próximo mês da bolsa –, mas tendo que se juntar aos comprados para este mês. Por outro lado, com o efeito de sustentação do final do mês neutralizado, fundos com uma posição próxima das máximas recentes – os fundos aumentaram suas posições compradas em mais 3.445 contratos em relação à semana anterior ficando com 40.318 contratos comprados em sua carteira –, e com mais disponibilidade de café, poderemos ver uma tomada de lucro no mercado futuro. Resta “apenas” projetar qual será a resultante disso. O que temos tecnicamente é uma divergência baixista, apontando perda de fôlego do mercado, e, por isso, vemos como mais provável uma correção negativa de curto prazo ainda nesta semana.



Londres já havia rompido na semana anterior ao período de análise deste relatório, a forte resistência próxima de US$ 1.840/ton. Por isso recomendávamos compra, mas dado o recente rompimento, não saberíamos dizer se os preços andariam próximos a esta barreira, para depois começar a subir. No fim, isto foi o que aconteceu. E agora, a estratégia mais recomendável para o mercado de futuros de robusta é o momentum investing, ou seja comprar o que já está caro, para vender mais caro ainda. Como as cotações têm mostrado boas altas e com certo fôlego, apenas alguma correção mais significativa em NY pode atrapalhar esta trajetória ascendente de preços – que foi o que aconteceu hoje, dia 1/11. O único e enorme problema dessa estratégia é que não se pode dizer quando sair, portanto, fica a velha máxima de mercado: “lucro bom é lucro no bolso”, para melhor administrar isso, usa-se stops móveis. A trajetória do mercado mantém-se altista, mas como nada dura para sempre, fica assim nossa recomendação.



Em nosso último relatório, dizíamos que não sabíamos ponderar até onde poderia ir a alta de preços na BM&F. Agora temos fortes suspeitas de que não só alcançamos uma primeira barreira, como esta está para ser deixada para que o mercado volte a níveis de preços menores. A linha inferior do canal de alta serviu como suporte nesta semana. Mas a indefinição dos preços e a alta volatilidade implicam que os indecisos são muitos e estes se juntaram à tendência que prevalecer, seja altista ou baixista, por isso, imaginamos um mais provável estouro para baixo. O primeiro suporte está curto, nos US$ 230,00/saca, e depois disso, há um por volta de US$ 222,00/saca. Está queda de 500 pontos na semana que se inicia pode ser favorecida por um gap por conta do feriado nacional na terça-feira. Então, cuidado para dormir posicionado no feriado.



**Esta análise foi enviada para nossos clientes e colaboradores no dia 01/11/2010**

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dólar comercial - aspectos atuais


As duplas atuações do BC comprando dólares através de leilão no mercado à vista voltaram a ocorrer nesta semana E durante três dias seguidos, de quarta a sexta-feira. O efeito sobre o câmbio é momentâneo na movimentação do dia, mas sinaliza que o BC está atento ao mercado. Alguma mudança de fato talvez pudesse ser observada se o BC pagasse cotações acima das praticadas pelo mercado, mas isso não faz parte do seu histórico de atuação. De qualquer forma, a efetividade do leilão à vista depende da boa vontade do mercado. Não adianta o BC anunciar compra se o mercado não quiser vender. Lembramos que agora em 2010, o BC retomou as duas atuações diárias em 15 de abril, quando a moeda rompeu a linha de R$ 1,74. A estratégia se repetiu por mais três vezes quando a moeda voltou a furar esse mesmo R$ 1,74. A última atuação dupla foi no dia 3 de maio. Depois disso, o BC teve “ajuda” da crise das dívidas soberanas da Europa, que aumentou a demanda por dólar e levou a moeda para cima de R$ 1,85
Há quem afirme que a força do real seja resultado mais de especulação do que qualquer outra coisa, já que o real é a segunda moeda mais negociada do mundo nos mercados de derivativos, mas não tem aceitação física fora do Brasil. No entanto, a valorização do real contribui para a contenção das expectativas inflacionárias, trazendo-as para proximidades do centro da meta estipulada pelo governo.
É natural que a direção da taxa câmbio seja para baixo. Basta olhar para a posição vendida (aquela que ganha com a queda do dólar) dos bancos no mercado à vista, que passa dos US$ 14 bilhões, e dos estrangeiros, que chega a US$ 5,8 bilhões, no mercado futuro. O raciocínio que embasa a formação dessas posições é bastante lógico. Afinal, são aguardados bilhões de dólares em ingresso da capitalização da Petrobras e outro ingresso via emissão externa de empresas. A grande interrogação é o que acontecerá depois que essa onda de dólares entrarem no país e os agentes zerarem essa posição. Segundo um especialista, “o mercado vive de oscilação, não importa para que lado”, frase que vai de encontro ao caráter especulativo do real nos mercados futuros e se o governo não quisesse a taxa de câmbio no nível em que está já teria tomado outras medidas mais efetivas do que a compra de dólares no mercado à vista. Entre essas medidas, o mesmo especialista defende a limitação na exposição cambial com relação ao patrimônio líquido das instituições. Dessa forma, seria possível limitar o tamanho das posições vendidas e reduzir a pressão de baixa sobre a taxa de câmbio.
Esse movimento especulativo foi identificado pelos economistas do governo que defendem que o mercado seja surpreendido com as compras do Fundo Soberano e com a possibilidade de o Banco Central alterar os limites que os bancos têm para operar com câmbio. Ao contrário do BC, que divulga ao mercado suas operações diárias, a entrada do Fundo não é precedida de uma comunicação. Nesse sentido, o BC e Ministério da Fazenda estão discutindo uma série de medidas para conter uma valorização ainda maior do real, na tentativa de impedir que o dólar recue abaixo dos R$ 1,70. Algumas medidas já são conhecidas e apenas o momento de uso de uma delas é que ainda está em discussão: a oferta de “swap cambial reverso”, que equivale a uma compra de dólar no mercado futuro. Esse tipo de operação é usado para equilibrar as apostas no mercado futuro sobre a tendência do dólar. Os rumores são de que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria desaconselhado a operação pelo seu elevado custo. Esse impedimento, no entanto, já foi removido. O BC já dispõe de pareceres jurídicos garantindo a operação e eliminando os temores do TCU. A questão agora é acertar a estratégia em que o timing e o elemento surpresa se reforcem e impeçam a excessiva valorização do real. Mas, é intrigante uma surpresa avisada, não?!
Quanto à capitalização da Petrobrás, que muitos identificam como um momento de vulnerabilidade para a excessiva valorização do real, a operação poderia ser administrada sem afetar fortemente o mercado de câmbio. O governo poderá estabelecer um cronograma para o ingresso dos dólares da participação estrangeira na capitalização. A Petrobrás não precisa trazer os dólares de uma única vez, poderia deixar dinheiro lá fora para, por exemplo, pagar fornecedores estrangeiros e isso impediria que a tendência baixista do dólar se mantivesse. Segundo um analista, passada a operação da estatal, a tendência será por valorização do dólar, por causa do crescente aumento do déficit em conta corrente do Brasil (que registra as operações do País com o exterior). Pois, além da expectativa de entrada do dinheiro relativo à capitalização da Petrobrás e do aumento das captações externas, outro fator tem contribuído, há mais tempo, para a alta do real: a especulação de investidores que querem aproveitar a diferença entre a taxa de juros brasileira e a de outros países, sobretudo desenvolvidos. Aqui, a taxa básica (Selic) está em 10,75% ao ano. Nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, está perto de zero.
Em se tratando de dólares no exterior, segundo dados do BC a soma não internada no país totalizava US$ 17,3 bilhões até o mês passado. E a pergunta que fica é o que o exportador faz com esses US$ 17 bi? Numa tentativa de conter o ingresso de dólares no país, o Ministério da Fazenda, em 2008, autorizou o exportador a deixar até 100% dos recebíveis de exportação no exterior. E é isso que eles estão fazendo. Mas não faz sentido pensar que os exportadores estão apenas esperando a cotação do dólar ficar mais favorável à conversão ou para atender seus compromissos. Pois, mesmo com a taxa desfavorável ainda seria mais interessante trazer o dinheiro e aplicar no mercado local, que oferece rendimento mais atraente do que os juros pagos no mercado externo. Uma solução possível é repassar esses dólares aos bancos, que vendem a moeda no mercado local ao BC – que estimula a formação de posição vendida comprando dólares em quantidade superior ao fluxo. Feito isso, o banco repassa esses reais aos exportados cobrando um juro mais alto que o praticado pelo mercado. Agora, a primeira vista isso não deve preocupar a autoridade monetária. Afinal, o aumento da posição vendida dos bancos no mercado à vista tem contraparte em moeda que está no exterior. No caso de alta do preço da divisa americana, esse exportador desmancha a operação que tiver com o banco e ingressa com a moeda no mercado local. Moeda essa que dará cobertura à posição vendida do banco. Claro que o banco pode ter alguma perda dependendo da variação cambial em questão.
Na pesquisa do Boletim Focus do BC a expectativa do mercado para taxa de câmbio no final do ano, após 23 semanas cravada em R$ 1,80, caiu novamente e está em R$ 1,77. A previsão de déficit em conta corrente mantém-se em US$ 50,00 bilhões. A projeção da balança comercial manteve-se inalterada pela quinta vez consecutiva em US$ 15,00 bilhões. O IPCA – que desde nosso relatório semanal de 31/05 a 04/06 afirmamos estar em trajetória de baixa – pela primeira vez no ano fica abaixo de 5%, indo para 4,97%, abaixo do centro da meta  governamental de 4,50% para o fim do ano.

Giovani Damiano

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Funcafé pode ser usado para operação no mercado futuro

Abaixo segue uma notícia do Conselho Monetário Nacional que reflete a importância da utilização de ferramentas do mercados de futuros e derivativos para o gerenciamento de risco de preços. Projetar fluxo de caixa, garantir vendas a preços mínimos, participar de ganhos em viradas de mercado fazem parte das diversas estratégias que podem ser usadas nas bolsas. 
Apesar do receio nas operações e a crença generalizada do caráter especulativo dos contratos futuros, o hedge (proteção) não tem a menor proximidade com isso. A definição do hedge é que a posição assumida no mercado futuro é oposta à do físico. Assim, o produtor que tem café em estoque entra vendido no mercado garantindo seus preços. Pode-se desenvolver a estratégia e caso o mercado suba, ele ganhe no futuro também, mas com um custo adicional que precisa ser avaliado.
Em suma, as estratégias que podem ser utilizadas são diversas, atendem a quaisquer necessidades, não deixam o agente sofrer com os riscos das oscilações de preço - como os -8% da terça - e garantem tranquilidade.


PS: não deixem de ler na publicação anterior, o artigo sobre o mercados futuros agropecuários para compreender melhor o tema.
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O CMN aprovou a criação de uma linha especial de crédito no valor de R$ 50 milhões para financiar o pagamento dos custos operacionais, margens e taxas das operações do mercado futuro de café. 
Os recursos são do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira). “O foco é fazer a distribuição das operações no mercado futuro do grão no momento em que o preço do mercado está rentável”, explicou Gilson Bittencourt. “Se incentivo a venda futura, escalono melhor a oferta”.
A linha especial de crédito poderá financiar até 100% do valor exigido em bolsas de mercadorias e de futuro limitado a R$ 80 mil por produtor e, no caso de cooperativa de produção, o resultado da multiplicação de R$ 40 mil pela quantidade de cooperados ativos que tenham depositado a produção de café. 
Os cafeicultores poderão contratar a linha até o dia 1º de dezembro de 2010, com prazo de reembolso coincidente com o prazo de liquidação da operação de mercado de futuros ou de opções, limitado a 360 dias contados a partir da data de contratação, à taxa de juros de 6,75% a.a.


Fonte: Assessoria de Comunicação Social - GMF


http://www.fazenda.gov.br/audio/2010/agosto/a250810.asp